Lilica pertence a uma família importante (Monomorium pharaonis), mas adora ser chamada de formiga-do-açúcar. Mede dois milímetros, tem cor amarelada e o corpo transparente. Guarda a mágoa de ter sido expulsa dos hospitais, seu habitat preferido. Lilica também é conhecida como formiga faraó.
– Parte I– Lilica e sua turma se embriagaram ao invadir minha cozinha para sugar o açúcar que se formara sobre a bancada, após o uso do álcool em gel. E logo estavam todas embriagadas. Em Lilica, Uma Devassa.E explodiram nas redes sociais.
– Parte II– Ouvi vozes fininhas, em si sustenido, vindas da cozinha. Lilica e seu grupo exigiam respeito. Estavam sob o efeito do álcool a 70% borrifado sobre a bancada. Embriagadas, saíram cantando em grupo e sumiram por trás de alguns utensílios dispostos sobre a bancada da cozinha. Lilica, o Retorno.
– Parte III – Lilica e seu grupo passam por um processo de corrupção interna, face ao grande volume de dinheiro (K5 – cada unidade equivale a cinco porções de comida) gerado pela monetarização de suas mídias sociais. Houve dispersão dos componentes, com formação de grupos menores. Lilica, O Anel de Giges Atrapalhou.
– Parte IV – Com o uso de uma solução diluída de água sanitária na bancada, Lilica e seu grupo se armaram com placas e faixas para protestar, entoando cânticos de revolta. Lilica, Impasse ou Armistício.
– Parte V – Depois de algum tempo ausente, três formigas do grupo da Lilica surgiram, montados em Ubermosq (mosquitos para transporte de passageiros de pequeno peso, como as formigas-faraó), para protestar contra a reiterada utilização da solução diluída de água sanitária sobre a bancada da cozinha. Exigiam a urgente suspensão do uso da solução, sob pena de invasão em massa, com milhares de elementos atacando ao mesmo tempo, durante a madrugada. Percebi que usavam máscara com filtragem especial para gases e eflúvios químicos. Lilica, Confronto e Ameaça.
– Parte VI – Vários elementos do grupo da Lilica foram vistos em uma pequena mesa, consumindo porções de açúcar, um pouco eufóricas devido ao álcool usado para a limpeza. Uma delas falou que jamais retornariam à minha cozinha, mas a presença do Comandante Guns lidando com pequenos grupos não me deixou tranquilo. Lilica, o Reencontro.
– Parte VII – Dois meses depois, em uma noite fria, por volta das onze horas, gritos de guerra foram ouvidos na cozinha, e pequenas explosões ribombavam nas caçarolas, o que amplificava o ruído. Batalhões de formigas-faraó invadiam a bancada. A Cerca de vinte de altura, esquadrilhas de ubermosq voavam sobre os batalhões de soldados, atirando bombas luminosas feitas a partir de um concentrado extraído de vagalumes logo após a morte, produzindo um efeito pirotécnico especial. Na frente, montada em um ubermosq, Lilica gritava palavras de guerra, e me convocou para discutirmos formas de convivência mútua, sob pena de ataques diretos às pessoas durante a madrugada, com sérios prejuízos para os injustos (nós). Lilica deixou claro sua disposição para um desfecho, uma solução para o imbróglio.
A questão era: ou vocês permitem nossa presença na bancada da cozinha, sem que seja limpa, para que possamos utilizar as guloseimas ali acumuladas, ou nossos grupos atacarão os moradores durante a madrugada, montados em ubermosq, sem deixar as pessoas dormirem, ameaçando entrar na boca, no nariz e no ouvido, além das bombas incendiárias, uma nova versão das bombas luminosas.
Ao final, a condição foi aceita, e a paz foi finalmente selada. O armistício foi celebrado com um pouco de espumante jogado sobre a bancada, e uma taça para mim. Porém elas esperaram que eu tomasse a bebida primeiro, deram um tempo e atacaram o que eu havia jogado na bancada. Somente pela madrugada retornaram para casa, quase trôpegas, pelo efeito do espumante. Os ubermosq não beberam.
Lilica, liberdade ou guerra.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN