Da série Estórias do Consultório
Juninho era meu cliente da rede pública de saúde. Gostava de falar de seu pai, um veterinário recém-chegado de Pernambuco, e se deixava levar pela empolgação. Sua mãe, dona Edrúlia, contou esta estória envolvendo seu marido, o herói do Juninho.
Encontraram um jacaré enorme em Pernambuco, em um rio próximo de Olinda. O animal foi levado para um local seguro, e acompanhado pelo pai do Juninho. Como veterinário, cuidava do bem- estar e da segurança do animal, enquanto o órgão responsável não definisse o destino do jacaré.
Dias depois, chegou a papelada para a remoção do réptil. O animal, sob todos os cuidados possíveis, seria transferido para o zoológico de uma outra capital, onde faria par com uma fêmea da mesma espécie. Passado o período de quarentena, tudo acertado, documentação pronta, chegou o dia da partida. No pescoço do jacaré, uma ficha de identificação onde constavam o peso, o comprimento e os dados do animal:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Crocodylia
Família: Alligatoridae
Gênero: Caiman
Espécie: Caiman latirostris
Apelido: Jacaré-de-papo-amarelo
O pai do Juninho foi indicado para acompanhar o animal até a cidade onde ficava o zoológico. Lá, uma fêmea de sua espécie o aguardava com ansiedade.
Animal contido com a técnica adequada, vários homens para colocá-lo no avião, check list verificado, e a aeronave partiu. Depois de duas horas de viagem, os cuidados e a movimentação do pessoal para o desembarque que, do mesmo modo, deveria ocorrer de forma segura e confortável para o réptil. No aeroporto, após a análise da documentação, veio a abordagem:
– O nome, por favor! – falou o policial da Secretaria de Meio Ambiente.
– Doralécio.
– Desculpe, eu quero o nome do veterinário responsável, e não o do Jacaré.
Silêncio. Doralécio logo se lembrou de algumas piadas envolvendo seu nome, que ouvira durante o curso superior, em Recife, e fitou os olhos do guarda, sem qualquer resposta.
No peito do guarda, o distintivo com seu nome: Odusis. O policial, meio sem jeito, apontou o caminho a ser seguido, e a comitiva seguiu em paz.
O jacaré continuava sisudo. Não lhe pediram o RG.
Evaldo,
Acredito que há gente, às vezes, que gostaria de estar no lugar desse jacaré … e até também não necessitar de apresentar seu RG.
Sônia
By: sonia on Outubro 11, 2011
at 5:51 pm
Concordo plenamente, Sônia. Mas que há nomes que soam como bálsamo, há. Desde minha passagem pelo Grupo Escolar Conselheiro Brito Guerra que tenho alguns pouquíssimos nomes com esse caráter transcendental, com sonoridade de bem-querer, que têm o condão de arrefecer, de fazer pensar.
By: evaldo Oliveira on Outubro 12, 2011
at 12:31 am
A história desse jacaré me lembrou essa outra:
Aí por volta de de 1977/78, na AEUDF, o professor pergunta o nome de um aluno que pedira licença para fazer uma pergunta:
– Qual é o seu nome, meu filho?
– Agapito – respondeu o coitado, meio encabulado.
– AGAPIIITO???? Isso é lá nome de gente?
Fiquei morrendo de vergonha. Imagine o dito cujo Agapito!
By: Guilherme Cantidio on Outubro 13, 2011
at 8:35 pm