Primeiro caso: A Chegada do Autocarro
O casamento aconteceria no dia seguinte. Igreja acertada, vestido provado; soprano para a Ave Maria. Vans alugadas para o transporte do pessoal que viria de fora; cerimonial, recepção, bufê. Os familiares que moravam no Rio de Janeiro formaram grupos que se revezavam na ida à rodoviária ou ao aeroporto. A acomodação na casa dos parentes era tarefa de outro grupo, que se esforçava para desempenhar sua missão.
Dona Arnóbia, que viera dias antes de Lisboa, estava ansiosa. Naquele calor infernal, coordenava a recepção e a hospedagem do restante do grupo que estaria para chegar de Portugal. Andrade, tio da noiva, carioca da gema e da clara, percebendo a aflição de dona Arnóbia, trouxe-lhe um pouco de água gelada. A parente lusitana, um pouco aliviada, falou com aquele sotaque forte e gutural:
– Eu vou ter muito trabalho, pois logo mais vai me chegar uma besta completa.
Andrade, sem se dar conta, e querendo agradar, interveio:
– Pode deixar que a gente dá um jeito nela, eu já tenho experiência.
– Mas eu estou a falar de um autocarro – falou a senhora.
– Pensei que estavas a falar de uma rapariga.
Segundo caso: Italy?
Em viagem pela Europa, um grupo de amigos viajava de trem da Alemanha para a Itália. Até ali, tudo corria conforme o previsto, inclusive os deslizes – desligamentos – de Ana Maria.
De fones nos ouvidos, Ana Maria curtia suas músicas favoritas, cabeça baixa, enquanto lá fora a paisagem era deslumbrante, com grandes extensões de plantação de mostarda, que enchia a visão de um amarelo entrecortado de verde, de boa lembrança para nós, brasileiros.
E surgiu a figura típica de um cobrador: gordo, bonachão, com aquele habitual bom humor dos alemães. Para em frente a Ana Maria e, quase gritando, berrou:
– Italy… Italy… Italy? – e caprichava no reforço do i, o que dava à pronúncia o sim de Italí.
– Ana Maria retirou os fones dos ouvidos e, desligada como de costume, olhou para cima e respondeu:
– Não, é Rod Stewart.
– Recolocou os fones nos ouvidos e voltou a abaixar a cabeça, enquanto balbuciava alguns trechos da música, balançando o corpo.
Os amigos Lúcia e Sobral, sentados ao lado, falaram com o cobrador, mostraram o tíquete da passagem e ele se retirou com seu passo pesado. Ana Maria, nesse instante, levantou a cabeça e perguntou para o grupo em volta:
– Como esse cobrador sabe que eu conheço Rita Lee?
EVALDO ALVES DE OLIVEIRA
Médico Pediatra
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Evaldo “Italy”, pronunciada como oxítono (ênfase no “ly”), realmente poderia ser facilmente confundiodo com “Rita Lee”. Principalmente usando-se fone de ouvido. Diga pra Dra. Ana Maria (Alves de Oliveira?) que não foi exatamente uma gafe, mas, cá entre nós,…Rod Stewart?????
By: Guilherme Cantidio on Julho 14, 2012
at 12:57 pm