Em fevereiro, o Rei Momo bateu à nossa porta, digo, apareceu na TV. A Rainha do Carnaval exibiu-se feito pipoca em panela quente, explodindo sensualidade. Mister Samba, por sua vez, executou passos quase impossíveis, alguns exagerados, largos, outros no miudinho, quase em off.
Madrinhas de Bateria – ou Rainhas, como querem algumas -, às dezenas, apareceram nos programas de televisão, com suas perigosas curvas de estradas com pedágio, seus volumes siliconizados e suas vozes de tenor desafinado. Ali e acolá, entrevistas com figuras que se exibiam no asfalto com um rebolado enlouquecedor. No alto dos carros alegóricos, destaques especiais brilharam como estrelas de galáxias perdidas. Porta-bandeiras, passistas, ritmistas e baianas, todos se esmerando em suas apresentações cheias de brilho e glamour. Claro, nesse mundo fashion do faz de conta não podiam faltar os intérpretes/puxadores e a velha guarda.
Do alto das arquibancadas, pessoas comuns se espremiam em uma exaltação quase doentia, expondo goelas e vidas ao risco por suas escolas. Ao lado – ou embaixo -, milionários, pseudo-ricos e uma fauna de aproveitadores esbanjaram bebedeira sofisticada, sob os auspícios degustatórios elaborados por chefs e cozinheiros de renome.
As prefeituras – leia-se contribuintes – assumem as monumentais despesas, realidade que viceja em quase todas as cidades brasileiras.
Evaldonautas, retrocedamos no tempo – interior do Brasil, década de 1960 -, em busca da Rodoro de Ouro. Lembram de Os Argonautas em Busca do Velocino de Ouro?. Nas ruas, os ursos e papangus, com sua ingênua alegria, disparavam uma correria de forma ameaçadora em direção à meninada, que fingia medo e até pavor. Batiam nas portas, entravam nas bodegas, mexiam com as pessoas. Pequenos grupos de foliões, fazendo uso de reco-recos, tambores, pandeiros e matracas, exibiam-se pelas ruas de forma desorganizada, mas com originalidade. Eram pessoas conhecidas. Trabalhadores, estudantes, donas-de-casa -, sempre acompanhados pela meninada, que atirava confetes e serpentinas, em uma correria sem fim. Somente os circos arrebanhavam mais meninos.
À tarde, os espaços nas proximidades do centro da cidade – geralmente, em frente à igreja – encharcavam-se de pessoas aguardando os blocos, em uma pletora hiperidrótica. A empolgação do povo era intensa e contagiante.
Sabemos que, para as crianças, tudo isso assumia uma dimensão grandiosa, e o cheiro gostoso das Rodo e das Rodoro inundava o ar circulante, na faixa dos 40 graus, inebriando-nos e nos fazendo sonhar. Os jovens que dispunham de recursos exibiam-se direcionando o jato gelado de seus lança-perfumes cor de ouro na traseira das meninas, sinalizando interesse, em disfarçado sem-querer-querendo em conluio com o descompromisso. Mais tarde haveria a chance de um encontro no baile da prefeitura, e o romance poderia de fato efetivar-se. Era o jogo.
Carnaval. De ontem ou de hoje, um mix de sonho e fantasia. Agora, sem as Rodoro.
Mas com excesso de sexo, silicone e muita fofoca e falsidade nos bastidores pedagiados.
Carnaval em Julho? Você está certo; afinal, saudade não tem calendário, principalmente quando se trata de um porre – inesquecível – vivido no cangote da namorada, sob os eflúvios de uma Rodoro. Gostei demais de integrar o barco dos “Evaldonautas”, “disfarçado, sem-querer-querendo, em conluio com o descompromisso”. Perfeito! A criatividade não pode ir mais longe do que isso. Abraços, Assis Câmara
By: Francisco de Assis Câmara on Julho 31, 2012
at 4:08 am
Caro amigo Assis, você, decididamente, é um garimpeiro de palavras e expressões. Um abraço.
By: Evaldo Oliveira on Julho 31, 2012
at 3:25 pm
Carnaval e sempre um tema alegre. Infelizmente tem pessoas que se aproveitam da oportunidade para exagerar.
Mas nao existe em lugar nenhum do mundo um Carnaval como o nosso. O povo se extasia e esquece por uns dias o sofrimento.
E como aquela musica . Quantos risos oh quantas alegria, mais de 1000 palhacos no salao. Viva o Carnaval nao importa qual seja o
mes do ano.
By: Dodora on Agosto 1, 2012
at 2:58 am