Fica em Wieliczka, cidade ao sul da Polônia, na área metropolitana de Cracóvia, a maior e mais famosa mina de sal gema do mundo. Fundada em 1290, é constituída por um conjunto de escavações dispostas em nove níveis, que vão até 327 metros de profundidade, e possui mais de 300 quilômetros de galerias. Sua origem remonta a treze milhões de anos, e se deve à cristalização do sal diluído na água do mar.
É no interior dessa mina que se respira o ar mais puro do mundo, com uma temperatura constante de 14°. Em um dos níveis mais profundos da mina funciona um hospital de haloterapia – terapia de sal -, procedimento indicado para tratamento de doenças pulmonares.
Esta mina foi visitada por Nicolau Copérnico, Goethe, Bill Clinton, João Paulo II e por mim, em 2010, quando tive o privilégio de pôr meus pés naquelas terras igualmente salitradas. Mas é um sal diferente, de cores variadas.
Durante a segunda guerra mundial, as minas de Wieliczka – que ficam próximas dos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau -, foram ocupadas pelos alemães, que as transformaram em armazém para fábricas de produtos militares.
O ar salitrado dessas cavernas pode atuar na mucosa respiratória como um alívio ou um bem-estar no respirar das pessoas, explica o chefe do setor de Alergia e Imunologia do Hospital do Servidor, Dr. Carlos Loja.
Em Londres, foi construída a primeira clínica de haloterapia da capital britânica e, como não há uma dessas cavernas naturais de sal, suas paredes e mobiliários foram cobertos por uma camada de sal.
Ao expulsar Caim do Paraíso, Javé teria dito: Andarás errante e perdido pelo mundo. Caim, então, foi para as terras de Nod – terras da fuga ou terra dos errantes, com a marca indelével do Éden. Milhões de anos depois, o jornalista francês Henri Bernier completaria esse entendimento, ao dizer: Um homem anda pelo mundo e sua terra viaja com ele, na sola de seus sapatos.
Nasci e cresci nas terras naturalmente salitradas de Areia Branca, a maior produtora de sal marinho do Brasil. Sentada em sua cadeira de falésias, bem na esquina do mundo, ela assiste a seu ar puro, que emana das salinas, mover cataventos da terceira idade. Vento que, travestido de assobio em si bemol, ainda hoje corre pelas madrugadas quentes dos manguezais, atrapalhando o namoro noturno dos caranguejos. No contraponto, refresca as manhãs ensolaradas, ressoando pelas gamboas. Maçaricos e berduelgas, aí, curtem sua sauna matinal. Para aqueles que não pisaram as várzeas salitradas, o Wikipédia informa que gamboa corresponde a um remanso no leito dos rios, dando a impressão de um lago.
Esse vento, juntamente com as águas de alta salinidade que abraçam a cidade, impregnaram de salitre a sola dos nossos sapatos, como marca benfazeja e indelével que, qual um ímã espiritual, nos liga a esse belo recanto do Rio Grande do Norte, e sinto que o contato com esse ecossistema nos confere uma qualidade de vida física e espiritual, mesmo que distantes desse Éden estejamos.
Recentemente, pesquisadores aventaram a hipótese de o consumo de batata-doce na infância e adolescência ser o responsável pela melhoria da performance dos corredores jamaicanos. Doping?
Quanto a nós, da esquina do mundo, temos o ar que respiramos e o salitre na sola dos nossos sapatos.
Não vão querer dizer que isso seja doping.
Evaldo. teu texto, meu licor do sábado com sabor do domingo.
“Um homem anda pelo mundo e sua terra viaja com ele, na sola de seus sapatos.”
Este trecho, presente em teu relato, muito bem pode ser aplicado a ti, com um acréscimo intercalado, (peço licença ao francês Henri Bernier onde quer que se encontre) : “… viaja com ele, desde seu prodigioso intelecto, passando pelas (artérias) coronárias… até na sola de seus sapatos.”
Texto belíssimo, conhecimento profundo de quem realmente viveu o momento e guardou para, depois, nos presentear, pelo que sou grata.
Destaque para:
” …mover cataventos da terceira idade. Vento que, travestido de assobio em si bemol, ainda hoje corre pelas madrugadas quentes dos manguezais, atrapalhando o namoro noturno dos caranguejos. No contraponto, refresca as manhãs ensolaradas, ressoando pelas gamboas. Maçaricos e berduelgas, aí, curtem sua sauna matinal. ”
ISTO É DEMAIS, menino… faz-nos apaixonarmos sempre mais pelo que escreves e pela forma inimaginável como o fazes.
Um abraço.
By: sônia on Novembro 18, 2012
at 1:15 am
Sônia, nesta manhã de domingo, estava eu escrevendo uma crônica, onde pergunto: Lembra de mim, Areia Branca? Terminei de escrevê-la, e fui ler seu comentário. Citado por você, com sua emoção e sensibilidade, fico em dúvida se fui eu que escrevi estes textos. Como ficaram bonitos com seu foco poético. Obrigado. Quando me for permitido, colocarei essa crônica da qual lhe falei.
By: Evaldo Oliveira on Novembro 18, 2012
at 12:39 pm
Excelente, .Sonia ja disse tudo que eu gostaria de dizer, mas nao tenho o talento da escrita. Dr Evaldo o senhor e um poeta nato.
abracos
By: dodora on Novembro 21, 2012
at 4:22 am