Há uma semana, Sisomário, cirurgião dentista recém-aposentado, deu de cara com um novo procedimento odontológico: Distração osteogênica – Conduta cirúrgica alternativa eficiente para uma série de alterações dentofaciais. Permite a movimentação dos segmentos ósseos através de osteotomia associada a tração dos segmentos, com dispositivo apropriado. É menos traumática e ambulatorial.
Este artigo científico conduziu o Dr. Sisomário a um passado distante, quando, no início do primeiro semestre do último ano do curso de Odontologia, foi cumprir seu estágio de treinamento no Projeto Rondon em uma cidade no interior do Pará, junto com outros estudantes.
Lá, Sisomário conheceu o desencanto logo no dia de sua chegada. A unidade de saúde onde trabalharia era de uma pobreza haitiana. Ao chegar para trabalhar, foi apresentado ao seu consultório: uma pequena mesa, uma cadeira que mal ficava de pé e outra cadeira, esta com repouso para os braços. Por sorte, havia local para esterilização do material. Isto o acalmou por algum tempo. Onde iria trabalhar? Quis saber. Onde estava o equipo odontológico? Inquiriu. Resposta: aquilo era o seu consultório. Não havia equipo. O paciente seria atendido naquela cadeira com encosto para os braços.
Refeito do impacto inicial, o estudante, acalmado e orientado por seu preceptor, iniciou os atendimentos. Quase todos eram exodontia (extração de dentes). O paciente sentava, ele examinava e determinava quais e quantos dentes seriam retirados daquelas pobres bocas. Os pacientes eram pessoas humildes, moradores das redondezas, ou índios.
O terceiro paciente, por volta das nove horas da manhã, seu José, foi incisivo. Queria distrair o dente queiro. Após um exame detalhado, Sisomário preparou-se para a extração, que ocorreu sem intercorrências, conforme escreveria em sua ficha de atendimento. Não foi feita a sutura da lesão, pois ali não havia fio cirúrgico. Ao final, as determinações de praxe: não fazer isso, evitar aquilo e, detalhadamente, explicou:
– Nada de água quente na boca, hoje, tá?
Seu José fez que sim com a cabeça, já mordendo um chumaço de gaze. Terminado o expediente, com o pensamento nas iguarias paraenses do almoço, o estudante se preparava para se retirar, quando surgiu seu José esvaindo-se em sangue.
Sentado na cadeira, o paciente tentava explicar o ocorrido: fizera tudo o que o doutor havia determinado, especialmente a última observação: hoje, nada de água quente na boca. E foi assim que eu fiz, dizia o homem assustado. Hemorragia controlada, novas orientações foram feitas, agora com ênfase e detalhamento.
Uma irmã do paciente explicou: seu José, mal chegara em casa, colocou água quente na boca e foi nadar no rio, conforme havia determinado o dentista.
Já no corredor de saída, seu José resmungou: não explica direito!…
EVALDO ALVES DE OLIVEIRA
Médico Pediatra e Homeopata
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Não é só o ambiente político que está repleto de anedotas. Na área da medicina, o anedotário é extenso. Lembro-me de algumas: distração muscular; tomar soro psicológico; aquele caso do paciente que ouviu a expressão canal deferente e replicou: – O meu canal é igual ao de todo hômi. Outra: (um diálogo) – Estou com uma terrível dor de cabeça. – Tome Novalgina. – Onde?
Na área da farmácia, minha tia Cleine, uma farmacêutica filha de Dimas Pimentel, conta que uma criança estava-se esvaindo em sucessivas defecções. Perguntada, a mãe disse que seguiu o conselho da propaganda: – Dê leite de magnésia a seu filho!
Outra situação foi o caso de um hemograma solicitado a uma futura mãe.
Na hora da coleta do sangue, a enfermeira chamou: Sra. Maria. Subitamente surge o Sr. José e diz: – Moça, pode tirar meu sangue. O padre que nos casou disse que o nosso sangue é o mesmo e é abençoado por Deus. A Maria estava lavando roupa e não pôde vir!
Irmão escriba, acho que sua penúltima crônica do blog do Carlos bateu o recorde. Foram mais de QUARENTA COMENTÁRIOS.
By: RICARDO DIMAS RAMOS CARNEIRO on Janeiro 25, 2013
at 11:42 pm
Todos esses
Todos os fatos aqui narrados são verdadeiros, Ricardo. O coitado quase morre, esvaindo-se em sangue.
By: Evaldo Oliveira on Janeiro 25, 2013
at 11:52 pm
Muito boa essa, Evaldo!
O idioma pode ser traiçoeiro…
Abraço,
Omar
By: Omar on Janeiro 26, 2013
at 12:19 am