Tresloucado, sem rumo, Pitangus – nome de família – vagava há algum tempo pela praia de Upanema. Nascera naquela região, e não conhecera seus pais. Quase não trabalhava. Apenas o suficiente para viver. Nada mais. Uma angústia se apoderara de seu ser. Sentia que algo ou alguém faltava à sua vida.
Durante o dia, um sentimento de abandono. À noite, tentando repousar em sua casinha escura, aquela sensação de estar sozinho nesse mundo. No fundo de suas lembranças, o esboço esfumaçado de um rosto o atormentava.
Amigos, quase nenhum; família, não conhecia. Para ele, os dias eram penas a repetição de um desconforto que freava seus instintos, suas vontades, sua libido.
Foi quando, nos confins de umas dunas, próximo a um poço natural, deparou-se com o rosto que buscava. Atônito, contemplou aquela imagem há tempos perseguida. Uma sensação de paz e um ar contemplativo dominavam sua mente, seu corpo, sua alma.
E todos os dias retornava ao local da descoberta, e ficava embevecido com a beleza daquele rosto à sua frente. Não era preciso falar. O silêncio respondia aos seus anseios e preenchia suas expectativas.
Certo dia, não encontrou o rosto bonito que buscava. Caminhou, revirou pelas proximidades, e nada. O rosto se fora. Angústia, solidão, sentimento de minusvalia. Foi quando, contemplando do alto de uma duna, reencontrou o rosto amigo, a beleza que preenchia de regozijos seus dias de penúria.
Correu ao seu encontro. Ajeitou o espelhinho de bolso que repousava sobre a areia, qual hóstia gigante a confortá-lo, contemplou seu rosto, sorriu e cantou apaixonado e feliz.
Finalmente, Pitangus descobriu-se bem-te-vi!
Mais uma curiosa e ‘sui-generis’ crônica que revive o mito de Narciso. Agosto está chegando, amigo…
By: RICARDO DIMAS RAMOS CARNEIRO on Julho 21, 2013
at 1:35 pm
Meu Deus do Céu, de onde vem tanta inspiração, Dr. Evaldo?!
By: sônia on Julho 26, 2013
at 5:02 pm