Monte Olimpo, Grécia, século VIII a.C. No início, o Universo foi dividido entre três deuses, cada um tendo a jurisdição sobre um domínio particular. A Zeus coube o domínio dos céus, assumindo o direito de governar os deuses. Poseidon tornou-se o deus dos mares, e a Hades coube reinar sobre o Mundo Subterrâneo. As mulheres assumiram as funções de deusa dos rios, deusa da lua, deusa do alvorecer, deusa da terra, da colheita e da fertilidade. Outras seriam ninfas e sereias.
O Mundo Subterrâneo era o lugar para onde eram levadas as almas logo após a morte. Quando a pessoa morria, Hermes vinha apanhar sua alma para guiá-la até o Mundo Subterrâneo. Para se chegar ao mundo dos mortos, era necessário atravessar o rio Estige. Havia o barqueiro dos mortos, de nome Caronte. Ele exigia uma moeda (óbolo) como pagamento. Contudo, ele apenas conduzia o barco, e era a alma que teria todo o trabalho de remar. Se a alma não tivesse o dinheiro para pagar o serviço, era obrigada a vagar depois da linha do oceano por cem anos, para, depois, ganhar o direito de entrar no barco.
Após ser recebido por Caronte, o morto tinha que passar por Cérbero, o cão de Hades, antes de entrar pelos portões do Mundo Subterrâneo. O cão tinha três cabeças, e adorava comer carne fresca. Mas Cérbero só atacava aqueles que queriam escapar, ou mortos vivos que queriam entrar.
Em função desse ritual, era hábito entre os antigos colocar uma moeda embaixo da língua dos entes queridos que morriam, para que fosse feito o pagamento dos serviços de Caronte e cruzar o reino dos mortos.
Areia Branca-RN, maio de 2010. Na Rampa em frente à igreja matriz, uma canoa espera seus passageiros, com um homem forte a comandá-la. O barqueiro, a meu pedido, nos conduziu pelo rio Ivipanim, no sentido de Grossos e, como um guia turístico respeitoso e bem informado, falava dos elementos da natureza que vislumbrávamos no caminho.
De um lado, o manguezal que sai de Grossos e se espalha como uma sobrancelha na direção de Barra, passa por Pernambuquinho no sentido da boca da barra, seguindo os caminhos do rio no rumo do mar. Aqui, o manguezal se encanta com o vai e vem das águas no seu encontro agridoce, com hora marcada nas tábuas das marés, onde certamente Poseidon, em suas viagens oceânicas, muitas vezes se entregou aos encantos de sereias tropicais.
No retorno dos lados do Pontal, vislumbro minha cidade à esquerda, com a visão das salinas no caminho da Praia do Meio, passando pela prainha de Zé Filgueira. À frente, na distância da visão, a silhueta da igreja matriz a nos apaziguar. Paramos novamente na Rampa. É chegado o momento de, mais uma vez, entrar na igreja em que me batizei.
No Ivipanim como no Estige, um canoeiro a nos conduzir.
No Ivipanim, com elegância e respeito. Ficamos com o canoeiro de cá.
Estive visitando Areia Branca, há cerca de um mês atrás, e, de balsa, fui de Areia Branca até Grossos. Achei a cidade descacterizada, muito diferente da época em lá morei.Assustada, com boatos de assaltos e violência. Despovoada,pouca gente nas ruas, pouco movimento. Chegando em Grossos, me deparei com uma cidade-fantasma de lá me dirigi a Tibau para, em seguida, retornar para Fortaleza.
O seu texto, muito bem escrito, com personagens da Mitologia, tem aplicação na Areia Branca saudosista, dos velhos tempos, das décadas de 60 e 70, quando lá vivi.
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By: Francisco Assis de Oliveira on Março 10, 2014
at 1:52 am