14 de março, Dia Nacional da Poesia
Cortar o Tempo
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.
Carlos Drumond de Andrade
Procura da Poesia
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
Caro Evaldo! Permita-me deixar aqui neste comentário uma Poesia do livro do nosso amigo Francisco de Assis
Desafiou-me o Poeta: – O que é mais belo?
O instante em que o pássaro alça voo
Ou aquele em que, suavemente, pousa?
Indiferente ao voo e ao sobrevoo,
A razão não sabe apelo tão singelo:
Mesmo tentada, responder não ousa.
Inverte-se, então, a forma do soneto
E a emoção se reserva acrescentar:
Será mais belo dançando um minueto
Ou na folha da palmeira, ao repousar?
Mas, descansado, ligeiro vai embora,
Pois o destino do pássaro é voar!
Meu espírito, absorto, reza e chora:
Em que céu, ou em que ninho, vai pousar?
By: Chico Brito on Março 14, 2014
at 5:10 pm
Esse também é o dia de nascimento de Albert Einstein, a poesia feita ciência.
By: Carlos Alberto on Março 14, 2014
at 9:10 pm
Não sei fazer poesia, só apreciá-la…Mas quero parabenizar todos os poetas neste dia; em especial, o meu poeta maior que me deixa embevecida com toda sua inspiração.
A Albert Einstein, físico e humanista alemão, por sua genialidade, todas as honras merecidas, lá onde hoje descansa.
A todos “vocês”, meu abraço.
By: sônia on Março 15, 2014
at 12:40 am