Há ocasiões e momentos em que a arte da medicina extravasa pelos finos poros do saber construído a partir da experiência de vida. No início da história da medicina, os conhecimentos da prática médica e da técnica cirúrgica foram transmitidos a Asclépio, o deus da medicina, por Quíron, o mais sábio dos centauros.
Em Brasília, uma auxiliar de consultório – Lena – protagonizou dois momentos de pura arte, em que o raciocínio clínico foi elemento de destaque. Nas entrelinhas da medicina, dois momentos:
Entrelinha 1
Analícia, secretária de uma clínica de cardiologia, engravidou. A família dos dois lados estava feliz por ser o primeiro filho e o primeiro neto de uma família de muitos filhos.
A secretária passou a apresentar tonturas esporádicas durante a gestação, chegando a desmaiar em uma dessas ocorrências. O obstetra tratava o caso como tonturas eventuais da gravidez, e desse modo o parto ocorreu sem intercorrências, e a criança nasceu em ótimo estado.
Analícia, a secretária do consultório, retornando da licença maternidade, e percebendo que continuava com as mesmas tonturas da gravidez, falou para Lena, sua colega de consultório, e auxiliar do médico. A auxiliar do consultório, com vinte anos de experiência em clínicas de cardiologia, após ouvir a queixa da colega de trabalho, falou:
– Isso pode ser um bloqueio AV total, e talvez haja necessidade de colocar um marca-passo. Eu vou adiantar as coisas, e colocar o aparelho de Holter mesmo antes da sua conversa com o doutor.
Ao final, verificou-se que se ratava de um bloqueio atrioventricular total, e foi implantado um marca-passo.
Entrelinha 2
Lena, a auxiliar de consultório com vinte anos de experiência em clínica de cardiologia, observava sua filha de cinco anos durante o sono, e verificou que ela frequentemente despertava assustada. Resolveu analisar o pulso da criança e percebeu uma bradicardia (45 batimentos por minuto) enquanto dormia.
No dia seguinte, pediu ao cardiologista seu patrão para atender sua filhinha, e colocou o aparelho de Holter antes de entrar para a consulta. Após minucioso exame, o médico encaminhou a criança para avaliação do ciclo do sono.
Levada inicialmente ao otorrino, este observou uma atresia (pouco desenvolvimento) unilateral das conchas nasais, o que produzia uma apneia (parada da respiração) do sono, de causa mecânica.
Uma auxiliar atenta. E os frutos de uma vasta experiência.
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