No início da década de 1820, um jovem país ensaiava seus primeiros passos no difícil caminho da independência, tangido pelos ventos libertários que sopravam da Europa, especialmente da França. Em 1776, a independência americana resultou na criação da primeira democracia republicana da história moderna, treze anos antes da queda da Bastilha.
Ao retornar a Lisboa em abril de 1821, o rei D. João VI providenciou que fossem raspados os cofres do Banco do Brasil e encaixotados às pressas o ouro, os diamantes e outras pedras preciosas estocadas no Tesouro.
Ao assumir o governo na condição de príncipe regente, nomeado pelo pai, D. Pedro encontrou os cofres vazios. “Não há dinheiro. Não sei o que hei de fazer”, queixava-se o jovem príncipe, de apenas 22 anos, a D. João VI. O príncipe também reclamava da corrupção e dos desmandos na administração do dinheiro público.
Na época da independência, o Brasil era uma colônia de analfabetos, isolada e controlada com rigor. No vasto rol de proibições, estavam a indústria gráfica e a publicação de jornais. A circulação de livros estava submetida a três instâncias de censura. O direito de reunião era vigiado. De cada cem brasileiros, menos de dez sabiam ler e escrever. Na província do Piauí, todos os 70.000 habitantes eram analfabetos.
O sonho dos brasileiros de 1822 era grandioso. Queriam libertar-se de três séculos de dependência de Portugal e erguer na América um vasto império – um dos maiores que a humanidade havia conhecido até então. Em 1822, o Brasil tinha cerca de quatro milhões de habitantes. Desse total, 800.000 eram índios, 1.000.000 era de brancos e 1.200.000 era de escravos. Havia ainda 1.000.000 de mulatos, pardos, caboclos e mestiços.
A biblioteca real, trazida de Portugal por D. João, com cerca de 60.000 volumes e obras raras, era uma das maiores do mundo. Situada em um país de gente analfabeta, vivia às moscas. Possuía as melhores obras literárias, científicas e filosóficas das nações civilizadas. Vivia deserta e desconhecida pelos brasileiros.
Em 1776, ano de sua independência o padrão de vida nos Estados Unidos já era superior ao de sua própria metrópole, a Inglaterra. A circulação de jornais chegava a três milhões de exemplares por ano, marca que o Brasil só atingiria dois séculos mais tarde. Lá, até os escravos eram alfabetizados. O índice de analfabetismo aproximava-se de zero. Havia nove universidades, incluindo a prestigiada Harvard, criada em 1686.
Brasil 2015, tão pequeno quanto em 1821.
E por motivos semelhantes.
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Dados e base do texto retirados do livro 1822, de Laurentino Gomes
Obs.: texto publicado anteriormente com título trocado.
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