Logo depois de deitar, iniciou-se uma conversação nada agradável. Somente um lado falava. Calava um pouco, com indícios de momentos de calmaria, mas logo retornava junto ao meu ouvido com o mesmo tom da conversa anterior.
Finalmente, um momento de sono, um pouco de paz. Mas logo ela retornaria com sua ladainha infernal, no limite do insuportável. Desta vez, não acendi a luz. Tentei rechaçá-la na escuridão do quarto. Sempre conseguia se desviar, esgueirando-se para um lado da cama. Cheguei à beira do desequilíbrio.
Pela manhã, não a encontrei no quarto. Deparei-me com ela no banheiro, junto ao espelho, com a cabeça voltada para o vidro. Não sei se realizava um ritual matinal ou se exibia-se depois de me proporcionar uma noite de terror. Aproximei-me sem fazer barulho. Olhei para ela. Cheguei mais perto. De repente, por trás, um bofete seco quebrou o silêncio do quarto, e quase o espelho também, já com respingos de sangue. Machuquei a palma da mão. Acho que exagerei.
Até hoje não sei se era uma muriçoca, um mosquito palha ou um Aedes aegypti fugitivo de algum criadouro clandestino próximo ao meu quintal.
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