Quantas vezes retornamos à cidade de nossa meninice! E quantas vezes, tomados por uma sensação estranha, caminhamos por suas ruas, visitamos lugares com cheiro e jeito de passado, entramos em casas que ainda guardam a simplicidade da nossa infância, com seus quintais povoados por árvores, algumas destas vítimas de nossos furtos, sob o comando da ousadia dos arroubos juvenis. Não resisto a um pé de cajarana. Na casa de meus primos (os Cirilo) tinha um que foi assaltado por nossa turminha em diversos momentos. Pulávamos o muro apenas pela ousadia da meninice, pois seríamos convidados pelos donos da casa, se para eles nos dirigíssemos com esse pedido. Encontrei um belo pé de cajarana em uma pousada de São Miguel do Gostoso, carregadinho de frutos. Espero sentir novamente o gostinho de um juá, frutinha impossível nestas plagas goianas. Por aqui, o rei é o pequi.
Nas visitas a nossas cidades do interior, no agora de nossas vidas, tentamos reencontrar alguns rabiscos – marcas da infância – inscritos em muros e calçadas que já não existem. Palavras bobas, tipo te amo, coração ao lado, ou o nome de alguém quase inesquecível.
Não é qualquer um que, em criança, curtiu a imagem de um rio que corre em frente à sua casa, com um manguezal dos dois lados.
E o que fazemos quando imaginamos estar na cidade de nossa infância? Recordamos. A semântica nos diz que esta palavra – recordar – deriva de cor, cordis, coração. Recordar, portanto, é passar novamente pelo coração. Uma palavra simples que nos impele a uma reflexão sobre emoção e saudade. Nas ruas revisitadas, uma tentativa quase paleontológica de um pobre leigo nos meandros das pesquisas de nossa arqueologia de araque, na tentativa de localizar aquela inscrição, feita na véspera de uma grande festa popular, em um ano incerto da década de 1950/1960.
A palavra coração também deriva do grego cor, cordis. Daí também se originam muitas palavras, como Corajoso (aquele que age com a força do coração), concordar (reunir corações), discordar (afastar-se do coração do outro) e acordar (conciliando corações).
Recordar. Uma palavra. A semântica. Uma viagem no tempo.
Evaldo!
Recordar é reviver… momentos que conservamos na memória. As boas lembranças massageiam o coração. Acredito que, às vezes, é necessário alimentarmos as lembranças do passado para encontrarmos um determinado equilíbrio no presente.
Aguardo, (como os demais teus seguidores…), com ansiedade, teu próximo livro recheados de belíssimas crônicas, com esta e tantas outras que nos presenteias.
Um abraço.
By: sonia on Julho 12, 2015
at 11:42 pm