Em fevereiro de 2015 um senhor de 60 anos chegou ao PS de um hospital em Brasília com insuficiência respiratória aguda, tossindo, rosto com sinais de cianose. Pronto Socorro lotado. Aos gritos e empurrões, uma maca foi providenciada e o paciente transportado para o atendimento de emergência. A família não tinha qualquer informação quanto ao que poderia ter levado àquele quadro.
Com muita dificuldade para respirar, e com intensa agitação, o rosto em pletora, com sinais de cianose, o homem foi colocado na mesa de exame e o médico providenciou o material para intubação. O médico do Pronto Socorro tentou intubar o paciente, mas não conseguiu. Aos gritos, convocou um dos plantonistas da UTI, que ficava ao lado. O médico, mais experiente, já com o laringoscópio nas mãos, percebeu que o paciente esboçava um forte movimento para tossir, e resolveu esperar um pouco, apesar da insistência do médico plantonista para que agisse rápido. Cinco segundos. O paciente fechou os olhos, espremeu-se ao extremo e expeliu algo em forma de bola, logo identificado como sendo uma daquelas contas de madeira com que são feitos uns protetores de bancos de carros, especialmente utilizados por taxistas.
O paciente se refez, foi oxigenado e recebeu alta em seguida. Um familiar informou ao médico que, no carro, deslocando-se para uma consulta ambulatorial, o paciente arrancara uma daquelas bolinhas do encosto do banco e tentara engolir, sem que alguém percebesse. Com a trepidação do veículo, o objeto foi direto para a traqueia. O paciente entrou em desespero, com sinais de sufocação, e foi levado para o hospital.
Aquele senhor, de sessenta anos, era esquizofrênico e tinha como hábito engolir qualquer objeto pequeno que lhe viesse às mãos.
Um corpo estranho na traqueia. Cinco segundos.
A vida.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
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