Momento 1
Em um dia do mês de fevereiro de 1960, recém-chegado à cidade de Natal, vindo do interior, aos catorze anos de idade, aconteceu um fato que até hoje mexe com minhas ideias de visão do mundo.
Meu pai encontrava-se em fase terminal de uma doença paralisante que o acometera há apenas alguns meses. Transtornado, saí de casa sem rumo, e fui parar na Praça Almirante Tamandaré, que fica no final da Av. Rio Branco e início da rua que vai para o Alecrim, em um local mais baixo. Os carros vinham descendo a avenida, faziam uma meia curva em formato de bumerangue e subiam para no sentido do Alecrim. A pracinha ficava no final de uma e início da outra, na parte mais baixa.
Sentei-me no meio-fio e fiquei olhando os carros que desciam e se preparavam para subir a outra rua. Nisso, vislumbrei um carro preto – daqueles parecidos com um besouro rola-bosta – descendo, e desejei que ele capotasse à minha frente, no final da descida. E foi exatamente o que aconteceu. Saí em disparada para casa, com o coração aos pulos e um sentimento de culpa que até hoje me acompanha.
Momento 2
Já em Brasília, trabalhando como médico, havia assumido por dois anos a chefia de uma unidade de saúde. Lá, o chefe tinha uma vaga demarcada, debaixo de uma árvore frondosa, onde estacionava meu carro todos os dias pela manhã e à tarde.
Certo dia fui para o trabalho com o carro novinho de minha filha, pois o meu estava na revisão. Cheguei ao estacionamento dos funcionários e estacionei no local de sempre, debaixo da árvore. Quando caminhava pelo corredor do pequeno prédio, algo me pedia claramente para que eu retirasse o carro dali. Parecia uma voz interior. Pensei um pouco e resolvi obedecer ao instinto. Voltei e retirei o veículo do local onde estava e o estacionei um pouco à frente, em outra vaga. Quando me dirigia novamente para minha sala, no final de um comprido corredor, o guarda me chamou aos gritos. Voltei apressado para constatar que o galho mais grosso da árvore havia despencado exatamente no local onde havia estacionado meu carro ao chegar. O impacto do galho causou um afundamento no asfalto. Na mesma hora pensei em mamãe, que havia falecido.
A mente em dois momentos. Coincidência? Acaso?
E aquele aviso antes da queda da árvore?
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
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