A calmaria de Brasília parece ter se aprofundado neste domingo de sol de pós-chuva. Daí a ocorrência de um céu limpo e sol brilhante, tudo em conluio com o bem estar.
Só faltava um vinho branco. Saí do escritório – em casa – e voltei com uma taça de vinho de Bordeaux. Aos menos afeitos ao mundo dos vinhos, comunico que não costumo adquirir nenhuma garrafa que ultrapasse o limite de cinquenta reais. É minha linha de corte.
Deixei sobre a mesa o livro Palácio de Inverno, de John Boyne, também autor de O Menino do Pijama Listrado, sobre a mesa, com o marcador de página apenas com o pescocinho de fora. Minha mulher havia viajado para Natal, e a casa estava em silêncio.
E voltei com a taça de vinho na mão, sentindo seu aroma, disposto a continuar meu envolvimento com o czar Nicolau II, a czarina Alexandra Feodorova e o czaréviche Alexei, herdeiro do trono da Rússia, dias antes do desfecho da Revolução de 1917. A tensão da família real em São Petersburgo estava me deixando ansioso, com a aproximação das tropas inimigas.
Ao chegar, deparei-me com ela em meu escritório. E logo pensei: as portas estão fechadas; as janelas, também. Como ela conseguira entrar em meu recinto predileto? Fiquei perplexo, pois era a primeira vez que aquilo acontecia.
Sobre a primeira página do livro, dona Joaninha, de tonalidade amarronzada com pontos pretos espalhados pelo corpo, desfilava de forma solene, sabendo-se livre de predadores.
Talvez um protesto pelos privilégios e a vida de luxo da família imperial em São Petersburgo, imaginei.
Levei-a de volta ao quintal.
E fiquei pensando na vida.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
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