Naquele dia, em pleno mês de maio, Coimbra amanheceu ensolarada. Estávamos na primavera, e uma olhada pelos vidros do hotel nos indicava um dia comum. Caminhando pelas ruas, fomos nos deparando com pequenos grupos de estudantes que passavam devagar, entoando cantos e recitando poemas, parecendo levar em condução coercitiva outros estudantes, que se mostravam aprisionados.
Aqui e ali, outros aglomerados de jovens caminhavam pelas ruas principais da cidade, mantendo alguns estudantes sob tutela. Um desses grupos parou em frente à Catedral da Sé e, ali, desenvolveu-se um curto evento literário. Um dos prisioneiros passou a ler um texto muito bonito, que fazia referência a um fato histórico envolvendo um poeta português. Pessoas aplaudiam. Percebia-se uma aglomeração se formando em frente àquela catedral.
À tarde, o movimento dos estudantes aumentava na porta da Catedral da Sé (Sé Velha), um edifício em estilo românico cuja construção começou por volta do ano de 1139, quando a cidade de Coimbra foi escolhida capital pelo rei de Portugal, Afonso Henriques. Aquela movimentação ordenada de universitários fazia renascer em cada um de nós o espírito de estudante oculto em nossas histórias de vida. Uma festa na alma.
Tratava-se da Semana Acadêmica, uma festividade estudantil de instituições de ensino. A toda essa movimentação dá-se o nome de Queima das Fitas, por ser o nome da semana acadêmica mais antiga da Universidade de Coimbra, criada no dia 1º de março de 1290, a primeira universidade do país e uma das mais antigas da Europa.
A Queima das Fitas tem sua origem na cidade de Coimbra, e engloba atividades desportivas e culturais que ocorrem durante vários meses, juntando toda a academia e seus estudantes, na maioria de universidades. Este evento também serve de rito de passagem para os calouros, que passam a se chamar pastranos.
À noite, em uma bonita festividade com a participação dos moradores da cidade, centenas de estudantes universitários em fase final do curso queimavam fitas com as cores da sua escola, em um congraçamento carregado de emoções. A despedida.
Os estudantes da Universidade de Coimbra utilizam, desde o ano de 1718, uma capa preta para frequentar as aulas, o que aumenta o impacto da plasticidade dos grupos. Na barra da capa, alguns cortes parecem desfigurar a beleza do uniforme. É que os rapazes fazem um corte para cada namorada incorporada durante o curso – alguns exageram, claro. As moças são bem mais discretas.
Queima das Fitas. Festa em Coimbra. Tradição que se perpetua.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN.
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