Ele fazia parte do nosso grupo. Quando chegamos à Turquia, no anfiteatro de Éfeso, onde São Paulo apresentou algumas de suas cartas, avistei um jovem com uma pequena e estranha máquina apoiada no solo. Aguardou um pouco e recolheu seu instrumento de trabalho, tendo a tiracolo uma moderníssima Canon que dispõe até de sistema de geolocalização. A aura que flui no anfiteatro de Éfeso é de tal modo intensa que algumas pessoas passam por extranhas experiências psicológicas. No meio do anfiteatro, de repente, uma moça coreana começou a cantar uma estranha música de seu país, em um afinadíssimo meio-soprano digno de grandes artistas.
Em Praga, lá estava Sacul Acesnof com sua máquina primitiva, esforçando-se para conseguir mais uma foto, desta feita com o equipamento colocado sobre o vão da ponte Carlos, um dos monumentos mais famosos da capital da República Tcheca.
Mais tarde vim saber, além do seu nome, a origem daquele equipamento fotográfico tão insipiente. Tratava-se de uma câmera bastante rústica, de fabricação russa, cujo nome genérico é Pinhole – uma câmara escura com um pequeno orifício. Sua designação tem por base o inglês pin-hole (buraco de alfinete). Trata-se, pois, de uma técnica obsoleta de fotografia.
Uma câmera pinhole é uma câmara escura que, em princípio, é qualquer caixa ou lata fechada contendo um orifício, como essas latinhas com um furo que a meninada ainda usa para fotografias em grupos, nas ruas, geralmente para trabalhos escolares. Aristóteles se referia à câmara escura como instrumento de observação de eclipses solares.
As câmeras fotográficas modernas nada mais são do que câmaras escuras aprimoradas, sendo que a Pinhole mantém a característica mais primária do orifício, como se lê no Manual Prático de Fotografia Pinhole – Cfalieri – 1997. A câmera usada por Sacul ainda tem a interferência de outros dois orifícios, que promovem uma sobreposição da mesma imagem, gerando um efeito quase caleidoscópico, distorcendo ainda mais a realidade
O fenômeno da câmara escura talvez acompanhe o homem desde os primórdios das cavernas. Na Grécia Antiga, Aristóteles já se referia à câmara escura como instrumento de observação de eclipses solares.
A imagem produzida por uma pinhole apresenta uma profundidade de campo quase infinita, ou seja, tem um foco suave em todos os planos da cena.
Sacul justifica sua preferência por retratar monumentos: é uma exaltação do seu valor primário que, assim como a fotografia, é uma criação de valor simbólico, funcional e estético produzido para que algo seja lembrado. O monumento é um edifício público notável pela sua grandeza ou pela sua magnificência – arrematou Sacul.
Um fotógrafo. Uma pinhole. Uma foto magnífica. Um jovem tentando manter viva uma técnica fotográfica que agoniza.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Perfeito.
Minha filha vive com uma maquininha de lata fazendo fotos e diz que as fotos são perfeitas e dão muita realidade.
Parabens Dr Evaldo.
By: Cristina Helena Fernandes on Março 21, 2017
at 11:50 pm