Em uma manhã fria de sábado pós-feriado em Brasília, um dilema. Há dois dias chovia na capital do Brasil, e o clima era de pura Europa. Fazia um friozinho gostoso que, na semiescuridão, me empurrava de volta para debaixo dos lençóis. Minha mulher estava viajando, e eu me encontrava sozinho em casa.
Despertei supostamente pela manhã – digo supostamente porque o relógio ao meu lado emitia sinais de uma hora maluca, intermitente, sinalizando que, em algum momento daquela noite/madrugada, faltara energia elétrica em face das chuvas que caíram. Havia me levantado pela madrugada e ido ao banheiro. Era disso que eu lembrava.
Acendi as luzes no interior do banheiro e me vi diante de uma cena chocante. Na cuba do banheiro, embaixo da torneira, gotas esparsas, já ressecadas, de algo de cor marrom terroso, como se fora sangue antigo. Em seguida, pensei em vinho tinto. Mas eu havia tomado vinho branco na noite anterior. Imaginei serem gotas de café dispersas pela cuba. Porém em casa, à noite, não costumo tomar café puro. Impossível ser café.
Eu sozinho em casa. A cuba da pia do banheiro com resquícios de algo que não tinha relação comigo. De repente, no box, um barulho chamou minha atenção. Na noite anterior havia terminado de ler ORIGEM, o novo livro de Dan Brown, e meu coração ainda não retomara seu ritmo sinusal de sempre. Minha mente ainda não se libertara do museu Guggenheim da cidade de Bilbao, na Espanha.
E ali estava ela, bela e amedrontada, ensaiando fuga feminina. Tomei-a pela mão e cuidadosamente providenciei sua fuga pela janela do banheiro. Tentou voltar, mas não permiti.
Respirei aliviado. Que bom que minha mulher esteja viajando, pensei. Ela não encararia de modo fácil esta situação.
Que bela borboleta! E media exatamente o tamanho do meu palmo.
–
EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Evaldo…
Que fantástico, amigo!
Você toca nas letras e estas transformam-se em poesia!
By: Sonia Ribeiro on Dezembro 22, 2017
at 8:25 pm