Pediatra há mais de quarenta anos, quero deixar algumas impressões sobre esse evento – bullying -, aqui entendido como uma atitude agressiva sob a forma de ameaça, humilhação, tirania, opressão, intencional e repetida, seja verbal, física ou psicológica, que ocorre sem motivação aparente, praticada por um indivíduo ou grupo de indivíduos contra uma ou mais pessoas, causando dor e sofrimento. Geralmente essa atitude é realizada em meio a uma relação desigual de poder.
Essa atitude agressiva, que vem do inglês bully = valentão, pode ser direta, sem arrodeios, ou de forma dissimulada, ou até virtual (cyberbullying), e pode levar o indivíduo ao isolamento social. Para ser bullying, a violência tem que ocorrer entre pares, seja na escola ou no trabalho. Por esta razão, inexiste bullying de aluno contra o professor ou de funcionário contra seu chefe. O problema aqui é outro – fofoca, difamação.
Quando criança, nascido e morando em cidade do interior, sofri bullying de todas as formas, em especial a tentativa de agressão física, os apelidos e o menosprezo por ser pobre. Por sermos sete irmãos homens, essa coisa não tomou um aspecto mais intenso.
Como pediatra, percebo essas atitudes em crianças a partir dos três anos, quando no parquinho ou na creche o maiorzinho fica repetindo ele é bebê…; ele faz cocô na fralda…; e repete essa cantilena inúmeras vezes, até que a criança menor começa a chorar, e aos gritos também reaja: eu não sou bebê; eu não faço cocô na fralda! Ocorre também durante as brincadeiras, quando aquele maiorzinho insiste: Você não pode brincar com a gente! Você é bebê! E novamente vem o choro e o sofrimento do garotinho ofendido. Nessa idade, é raro ver isso entre as meninas. Nunca vi.
Quando maiorzinhos, a coisa vai se materializando em apelidos, muitas vezes ingênuos, que quase todos nós fizemos ou sofremos em nossas escolas.
Para Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional, para ser considerado bullying essa agressão física ou moral deve apresentar quatro características: a intenção do autor em ferir o alvo, a repetição da agressão, a presença de um público espectador e a concordância do alvo com relação à ofensa.
Com relação a este último item, conheci um garoto que morava na minha rua que desde pequeno sofria bullying por ter um nariz avantajado, fosse na escola ou nos jogos de futebol. No seu primeiro dia de aula na faculdade, ao entrar na sala percebeu um certo movimento nas carteiras, com risos dissimulados. Em certo momento, ele começou a jogar a cabeça para um lado e para o outro. O professor perguntou o que havia e o jovem falou, rindo e fazendo rir toda a sala: É a sombra do meu nariz que está atrapalhando a iluminação do meu caderno. Nunca alguém fez, na faculdade, qualquer referência a esse assunto de forma jocosa. Pelo fato de ele sempre ter levado na brincadeira, imagino que até nem poderia ser chamado de bullying, Hoje ele também é especialista em educação.
No Brasil, a Lei Federal 13.185, de 6 de novembro de 2015, instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying).
Bullying. Professores atentos, pais participativos; parte da solução. No trabalho, práticas de bom relacionamento e todo o rigor da hierarquia quando o problema ainda está no nível da fofoca.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
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