No rol de lembranças dos meus atendimentos na rede pública de saúde, veio-me à mente mais um caso emblemático. Trabalhava no Posto de Saúde do Guará I e tinha como cliente uma criança que morava em Taguatinga, cidade-satélite a cerca de 15 quilômetros. Esse cliente tinha um quadro de asma brônquica que resistia a todas as tentativas de resolução.
Os atendimentos anteriores foram corretos, e as medicações seguiram o padrão adequado para a alopatia. Foram prescritos medicamentos e cuidados de higiene que não funcionaram, apesar de bem intencionados e compatíveis com uma boa prática pediátrica. A criança já havia consultado com um alergista, porém seu quadro de asma continuava a responder de forma insatisfatória.
Depois de algumas tentativas de tratamento, sem que algo de especial surgisse em meus planos, tive a ideia de ir à casa dos pais do garoto. Acertamos para o dia seguinte. Senti que havia algo que mantinha aquela criança sempre em crise.
Na casa, apesar de alguns elementos não estarem de acordo com o que seria ideal, não me pareceram ser decisivos em sua não melhora. Não havia cão ou gato, ou outro animal de pelo ou de penas. Visitei o quintal e os lados da casa, e resolvi entrar no domicílio.
Analisei a sala, que me pareceu bem cuidada, e me dirigi, orientado pelos pais, para o quarto da criança, que ficava no início do corredor. Na passagem pela sala, algo me chamou a atenção. Havia muito calor na parte de cima do meu corpo, e da cintura para baixo a temperatura era bem amena, em função do piso. Parei, fui um pouco à frente e retornei. Ali estava a explicação para o problema do garoto. Havia claramente duas ondas (bolhas) de calor. Uma quente, que ia até a cintura de um adulto, e uma fria, daí para baixo.
Olhei para o teto, que descobri ser de telhas de amianto. Reuni-me com os pais e ficou acertado que imediatamente as telhas seriam trocadas para essas de barro, tipo colonial. Acredite, tudo passou a trabalhar a favor da saúde daquela criança. Adeus, asma!
Uma doença crônica de difícil resolução, em uma criança pobre atendida na rede pública de saúde. Uma visita. Apenas uma visita.
Telhas de barro. O início da cura.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Obs.: Caso algum especialista discorde dessa acepção, favor fazer comentário pertinente.
Evaldo!
Que interessante a crônica!
E tu, excepcional! Não deves deixar nunca a Pediatria…Fazes a diferença. Parabéns!
Um abraço.
By: Sônia Ribeiro on Fevereiro 17, 2019
at 8:50 pm