Notava-se uma movimentação silenciosa nos bastidores da Associação Brasileira Para a Defesa das Vogais. Em suas reuniões mensais, elas, as vogais, discutiam a procedência dos acentos circunflexos, agudos, as crases, os tremas, os encontros vocálicos. Em pequenas reuniões paralelas, duas vogais – O e U – se reuniam em uma biblioteca, às escondidas, com o objetivo de preparar um movimento de protesto.
Esse movimento, que inicialmente seria para a defesa de seus direitos, poderia se estender em um crescente, podendo chegar a um boicote. Essas duas vogais – O e U, maiúsculas, por favor -, poderiam, a partir de então, não mais se oferecer para formação de frases e orações, impedindo, assim, que a escrita tenha condições de continuar, por falta do O e do U.
Sem entender a ameaça do boicote determinado pelas duas últimas vogais, as três outras – a, e, i – convocaram uma reunião extraordinária para que a questão fosse discutida em sessão plenária. Ali, os motivos da pretensa revolta poderiam ser postos em discussão, para um eventual equacionamento. Afinal, as vogais iniciais sequer tinham noção dos motivos daquele movimento.
Iniciada a reunião, as duas últimas vogais chamaram a atenção para o fato de que os verbos da língua portuguesa possuírem três conjugações: a primeira trata dos verbos terminados em “ar” (cantar, falar, amar, dançar etc.); a segunda, dos verbos terminados em “er” (bater, comer, ver, ler etc.), e a 3ª conjugação, que corresponde aos verbos terminados em “ir” (partir, abrir, rir, sorrir, interferir).
As vogais iniciais se entreolharam com cara de estranheza, especialmente no momento em que o O e o U indagaram: Onde ficaremos nós, nessa estranha classificação? Não queremos fazer parte de apêndices de outras conjugações.
Ao final dos debates, foi promulgada a Resolução Normativa 02/2018, onde se explicitam as linhas para implementação de uma nova classificação para as conjugações verbais, aí incluídos os verbos terminados em OR. Com relação aos verbos terminados em UR – se é que existem -, o questionamento continuará, na esperança de uma de solução. Um novo encontro foi devidamente agendado, com a anuência de todas as 26 letras do nosso alfabeto, com exceção do y.
Afinal, o Y seria vogal, semivogal, consoante ou semiconsoante? Nova crise?
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
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