No dia 13 de março de 1901, em Alto Alegre, município de Barra do Corda, no Maranhão, ocorreu um dos maiores massacres da história do Brasil.
No ano de 1895 chegava à região de Alto Alegre uma missão dos Capuchinhos italianos, composta por 12 sacerdotes, 5 leigos e 5 irmãs, que compunham um grupo de catequese. No mesmo ano fundaram uma escola para os curumins, como eram chamadas as crianças índias em idade escolar. As filhas de pessoas ricas e influentes de Barra do Corda e Grajaú eram enviadas para ali estudar. Naquela região havia 17 tabas indígenas.
Os missionários recrutaram crianças para o internato do colégio, e exigiam que os índios participassem de missas, terços, aulas de catecismo, além de impor os seus rituais e conceitos.
A tribo dos índios Guajajara, liderada pelo cacique Caiuré Imana, dividia-se em muitas tabas, cada qual governada por um chefe ou tuxaua, escolhido por sua gente, em razão da bravura, caráter e honradez.
Inconformado com os procedimentos dos religiosos, o cacique Caiuré convocou o povo da selva para uma reunião e, sob a forma de convite, convocou também os chefes Guajajara para discutirem alguns aspectos pertinentes ao destino da raça. No meio da festa, Caiuré bateu com os punhos fechados no peito e falou bem alto para seus irmãos sobre o seu plano de libertação. Falou que não era possível aturar tanto abuso praticado pelo pessoal da Missão estrangeira que tinha como objetivo escravizar a todos, tentando encaixar nas cabeças dos índios que deviam levar a vida de outra maneira, e não como era ou deveria ser. O dia marcado pelo tuxaua Caiuré para o ataque era 12 de março do ano de 1901.
No dia 13 de março, mal clareara o dia, Caiuré, assumindo o comando geral dos caciques ali presentes, ordenou a todos para marchar rumo ao povoado, disposto a matar os que não pertenciam à sua raça.
Os índios bloquearam todas as saídas das estradas, e sob o comando de Caiuré – Morte aos Cristãos!– tiros e flechadas foram lançados sobre os cristãos. A capela ficou cheia de mortos, bem como dentro e fora das casas, no meio das ruas, pelos caminhos. Na capela, no convento e no sobrado era onde mais havia mortos. Nem mesmo as crianças foram poupadas. Ninguém da raça branca. E ai daquele que quisesse salvar a vida de alguma pessoa!
Ao amanhecer do dia 14, Caiuré ordenou a remoção dos corpos, tentando livrar-se do mau cheiro, e mandou que fossem enterrados. Temendo que pessoas de Arroz, Pari, Preperi e Lagoa Cercada, comunicassem o ocorrido às autoridades, Caiuré ordenou que todos fossem mortos, e que o serviço fosse bem feito.
Notícias da barbárie chegaram às grandes cidades do Brasil, causando grande consternação. O Papa Leão II assim se expressou: São as primícias do século XX.
Representando as forças do governo, a tropa do coronel Pinto desfechou um cerrado tiroteio contra Caiuré e seus guerreiros. O Cel. Pinto mandou o Cap. Goiabeira seguir com parte da tropa à aldeia Canabrava, onde estava o tuxaua Caiuré, na esperança de salvar a sua vida e a de sua gente. O oficial e seus comandados mal puseram os pés nos terreiros dos casebres ouviram a voz de Caiuré:
– Malvado capital Goiabeira, não preciso mais de viver! Vou sair na tua frente… mata-me, se é esse o desejo de todos os brancos malvados. Mas fica sabendo que eu não tenho medo de ti, nem do Cel. Pinto. Capitão Goiabeira, faze como eu, aprende a ter coragem! Aqui estou desarmado… Aproveita e dispara tuas armas!
– Valente chefe Caiuré, não queremos tirar-te a vida. Desejamos apenas levar-te a Barra do Corda e a São Luís do Maranhão, onde o Governador tem poder para perdoar tudo, e logo te mandar de volta a esta mesma região, onde nasceste e tens vivido até agora. Ele poderá te dar uma grande faixa de terra demarcada, onde quiseres escolher, e ainda viver feliz com a tua gente!
– Não! Não me interessa conhecer Torreão da Costa mais de uma vez! Nem também me interessa ganhar de homem algum aquilo que já é nosso, e que Tupã deixou para seus filhos. Não quero nada. Apenas quero morrer!
Caiuré, mal acabara de falar, foi rapidamente dominado pelos soldados. Ao final, estava preso e algemado o perigoso Caiuré, o general da selva. No final do mês de maio, pela manhã, chegava o capitão Goiabeira, conduzindo à sua frente, em um cavalo baio, o cacique Caiuré. Ao chegar em Barra do Corda, ouviu-se a banda de música executar o Hino Nacional e diversos dobrados cívicos. Fogos de artifício pipocavam pela cidade. O velho canhão deu diversos disparos.
Instaurado o inquérito, Caiuré Imana foi o mais acusado. Condenado, depois de dois anos preso, o chefe Guajajara não resistiu às sevícias e morreu.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
(*) Texto integralmente baseado no livro Caiuré Imana, o Cacique Rebelde, do historiador Olímpio Cruz.
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By: adcarrega on Novembro 15, 2019
at 1:19 pm