Quando em viagem, seja para lugares próximos ou distantes, nossa imaginação ganha ares de perplexidade, e algumas vezes somos traídos pela empolgação. Daí para um vacilo, a distância é curta.
Lembro que no retorno de Brasília, onde fomos realizar a prova para Residência Médica, apanhei um ônibus da Princesa do Agreste. O veículo era tão deteriorado que o motorista de reserva dormia no alto das três primeiras cadeiras, em uma tábua, ocupando a parte de cima, na lateral direita, com os pés quase tocando no rosto do infeliz ocupante da quarta cadeira.
Ao chegarmos em uma cidade da Bahia, deparei-me com três colegas que vinham do Rio de Janeiro, em um ônibus de última geração que acabara de estacionar ao lado do meu, na frente de uma grande lanchonete. Foram abraços e apertos de mão, e acertei com eles que mudaria de ônibus. Peguei minha pequena sacola e passei para o ônibus que vinha do Rio.
Almoçamos e retornamos às gargalhadas. Cerca de uma hora depois da saída, o motorista avisou que a pessoa que havia mudado de ônibus fosse falar com ele na próxima parada. Assim o fiz. E tive que pagar a passagem dali até Recife. Nada bom para um estudante pobre.
Ao chegarmos à rodoviária de Recife, compramos passagem para Natal. E um dos colegas sugeriu que tomássemos um comprimido de um ansiolítico para irmos dormindo até Natal. E cada um de nós fez uso daquele bendito remédio. Jamais em minha vida, até ali ou depois, fiz uso de tal medicação. Em Natal, chegando à rodoviária, estranhamos a movimentação da polícia em torno do nosso ônibus. Houve um assalto dentro do ônibus, durante a viagem. Os bandidos entraram e roubaram os pertences de todos, menos os nossos, porque não conseguiram nos despertar do sono em que nos metêramos.
Um amigo viajou para o Marrocos com a euforia de uma criança ao receber um presente. Em Marrakech, resolveu conhecer um mercado popular. Vestiu suas roupas de aventura e se dirigiu à feira. No retorno ao hotel, havia trocado toda a sua roupa por uma kaftan que mais se assemelhava a uma batina franciscana. No hotel, falou que não gostava desse tipo de roupa.
Em uma viagem a Miami, um amigo chegou ao hotel com um bonito par de luvas de boxe. Alguém do grupo elogiou, pois desconhecia seu gosto por aquele tipo de luta. Não, eu não gosto; comprei porque o preço estava muito bom –, respondeu.
Outro amigo, médico oftalmologista, em viagem por vários países da Europa, no primeiro dia, em Roma, encontrou em uma loja o faqueiro dos sonhos, com três andares. Empolgado, comprou o super faqueiro e empreendeu o restante de sua viagem carregando aquela pesadíssima relíquia. Ao chegar ao Brasil, resolveu mostrar sua aquisição aos familiares, e no fundo da caixa estava escrito: Made in Brazil. Era da Tramontina, e muito mais barato aqui.
Viajar em grandes grupos é uma superaventura. Já viajei desse jeito para muitos países. É seguro, você está sempre sob o amparo do guia, que fala incontáveis idiomas. Mas temos que ter cuidado, especialmente com os horários. Em Roma, as pessoas foram avisadas de que, às 13:30, todos tinham que estar ali, sem falta, pois o ônibus somente podia ficar estacionado por meia hora, e a viagem da tarde era longa. Quarenta e sete retornaram, menos um senhor que viajava sem companhia. Não o encontraram. Não sei se ele conseguiu retornar ao Brasil, pois o ônibus teve que continuar a viagem.
Viajar é uma aventura, mas precisamos retornar em paz.
Idosos devem viajar sempre acompanhados.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
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