Publicado por: Evaldo Oliveira | Setembro 11, 2020

LILICA, UMA DEVASSA!

As cenas explícitas de devassidão aconteceram na minha cozinha, protagonizadas por Lilica, uma formiguinha que adora comer coisas doces. De longe, muito longe, sente o cheiro das guloseimas sobre a pia da cozinha. Vem na frente, examina com cuidado os lugares mais atraentes, volta pra casa e retorna com sua turma. Sempre foi assim, e eu assim a tolerava.

Lilica pertence a uma família importante (Monomorium pharaonis) mas adora ser chamada de formiga-do-açúcar. Mede dois milímetros, sua cor é amarelada e tem o corpo meio transparente. Guarda a mágoa de ter sido expulsa dos hospitais. Lilica também é conhecida como formiga faraó. Estas formigas são uma espécie tropical, mas enfrentam qualquer clima, desde que haja aquecimento central.

Por ser de uma família nobre (pharaonis), Lilica gosta de se exibir frente a seus pares, em especial nas noitadas em que se entrega à esbórnia. Voltemos à minha cozinha. Com o surgimento da pandemia do novo coronavírus e da quarentena, entrou em ação a minha esposa, exigindo que Lilica e suas amigas sumissem da nossa casa.

Coloquei álcool a 70% em um borrifador e à noite, antes de iniciar a partida de futebol a que eu iria assistir, borrifei toda a bancada da cozinha; passei um guardanapo de papel para uniformizar a distribuição do álcool na bancada e fui assistir ao jogo pela TV.

O jogo corria em bom nível, e eu me esqueci da Lilica. Perto do final do primeiro tempo, imaginei ouvir gritinhos em si sustenido. Imaginei serem as crianças do vizinho em suas brincadeiras quarentenais. Porém os gritinhos continuaram. Foi justo aí que terminou o primeiro tempo.

Fui à bancada da cozinha e fiquei atônito. Lilica e suas amigas completamente de porre, promovendo balbúrdia sobre a bancada, indo e vindo em rodinhas de ciranda. Nesse momento, Lilica subiu em um caroço de feijão cru que estava junto à parede e ficou se contorcendo, sentada e rodando a parte superior do corpo em evidentes poses sensuais. As outras formiguinhas, com sinais claros de embriaguez, batiam palmas e atiçavam a performance da Lilica. 

Fui examinar o que havia acontecido de errado. Eu havia borrifado o álcool na bancada para promover a limpeza do local. Como aquelas danadinhas estavam ali, em um lugar devidamente limpo? 

Depois de algumas conjecturas, cheguei a uma conclusão: Lilica e suas amigas sentiram o cheiro adocicado do álcool que eu havia passado na bancada, vieram em grande grupo e ficaram consumindo a parte de cima, puro álcool. Depois de algum tempo, já embriagadas, passaram a sugar resquícios de açúcar que ficaram depois da evaporação do álcool; elas, agora, consumiam esse açúcar.

Esperei terminar o jogo e, percebendo que as formigas tinham ido embora, borrifei uma solução de água sanitária diluída sobre toda a bancada. No dia seguinte, repeti a dose da solução. E assim, todas as noites, aquele ritual de limpeza extrema se repetia. Lilica e seu grupo sumiram de vez.

Nesta noite não tem jogo na TV, e baixou uma saudade da minha amiga Lilica. 

Jogo novamente a solução de água sanitária na bancada, ou retorno com o álcool a 70%?

Qual a sua sugestão? 

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN


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