Dona Leopoldina, arquiduquesa austríaca da casa de Habsburgo, casou-se com o príncipe português Pedro de Alcântara em 1817, por procuração, e meses depois desembarcaria no Brasil. Mais culta que bela, foi publicamente infeliz no casamento até morrer deprimida, com apenas 29 anos, em 1826.
“Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1822
Pedro, o Brasil está como um vulcão. Até no Paço há revolucionários. Até portugueses são revolucionários. Até oficiais das tropas são revolucionários. As Cortes portuguesas ordenam a vossa partida imediatamente, ameaçam-vos e humilham-vos. O Conselho de Estado aconselha-vos para ficar. Meu coração de mulher e esposa prevê desgraças, se partirmos agora para Lisboa. Sabemos bem o que têm sofrido nossos pais. O rei e a rainha de Portugal não são mais reis, não governam mais, são governados pelo despotismo das Cortes que perseguem e humilham os soberanos a quem devem respeito. Chamberlain vos contará tudo o que sucede em Lisboa.
O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrecerá.
Ainda é tempo de ouvirdes o conselho de um sábio que conheceu todas as cortes da Europa, que além de vosso ministro, se não quiserdes ouvir o de vossa amiga. Pedro, o momento é o mais importante de nossa vida. Já dissestes aqui o que ireis fazer em São Paulo. Farei, pois. Tereis o apoio do Brasil inteiro e, contra a vontade do povo brasileiro, os soldados portugueses que aqui estão nada podem fazer”.
Obs: O sábio a que Leopoldina se refere é José Bonifácio.
Carta escrita em 02 de setembro de 1822. Nesse dia, D. Leopoldina assinou o ato de independência do Brasil. Cinco dias depois, o grito às margens do Ipiranga.
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EvaldOOliveira
Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Do livro Cartas Brasileiras; autor/organizador: Sérgio Rodrigues, editado pela Companhia das Letras.
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