Publicado por: Evaldo Oliveira | Setembro 10, 2022

AHNIAT E OS TUBARÕES

Ahniat era um peixe corajoso, e gostava de demonstrar sua bravura provocando os tubarões que habitam a praia de Upanema. De uma cor branco nacarado, quase prata, Ahniat tinha um brilho especial nas escamas, o que o tornava estrela daquela região das águas rasas.

A técnica utilizada pela tainha para provocar os pequenos tubarões já era conhecida. Iniciava sua provocação planando altaneira até a região de média profundidade, dando gritinhos finos, saracoteava e retornava a toda velocidade no sentido da praia, já na região dos pequenos peixes e dos siris.

O tumulto se expandia por toda a região. Os pequenos tubarões, em suas primeiras investidas na direção da praia ficavam assustados, davam meia volta e retornavam para a região de média profundidade, onde há muitos anos seus parentes reinavam quase absolutos.

Esses eventos de provocação, de um lado, e de desproporcional reação do outro,, se repetiam ao longo de todo o verão, deixando aterrorizados os moradores da região das águas rasas, que não concordavam com as investidas de Ahniat em sua mania provocativa e perigosa contra elementos de outras regiões. 

No verão seguinte, na flor de seus dois anos de vida, Ahniat exibia-se provocando os tubarões, que imaginava ainda de pequeno tamanho. Ao meio-dia daquele domingo, início de janeiro, a água do mar estava transparente, com uma tonalidade esverdeada, e o cheiro de sargaços tomava conta da região da beira mar. Aqui e ali, sirizinhos de casco cinza mexiam suas nadadeiras no chão, levantando um pouco de areia, para ser visto por outro grupo de siris.

De repente, um movimento brusco espalhava água de forma violenta, evento pouco frequente naquela região das águas rasas. Alguns tubarões de médio porte invadiram o recanto até ali pacato dos siris e dos pequenos peixes. Na frente, resfolegante e desesperada, Ahniat tentava escapar de inúmeras bocas escancaradas em sua direção, recheadas de dentes em serra, a uma velocidade muito superior às condições da pobre tainha. De quebra, os jovens tubarões dizimaram quase todos os pequenos peixes que moravam na região, em uma carnificina jamais ocorrida no território das águas rasas.

No final da tarde, após uma reunião emergencial dos moradores da região das águas rasas, o balanço da brutalidade: dezenas de peixinhos desaparecidos, siris com lesões pelo corpo, alguns faltando uma das patinhas, dois peixinhos sem cauda e um com uma mordida no dorso, que dificultava sua movimentação.

Na reunião convocada de urgência, a AMAR – Associação dos Moradores da Região das Águas Rasas discutiu sobre o ocorrido. A ação individualizada de elementos da região das águas rasas, com finalidades provocativas ou bélicas, na direção das águas médias e profundas, não pode ser perpetrada sem a anuência e/ou participação dos demais moradores.

No dia seguinte, na beira da praia, escamas de cor branco nacarado reluziam à luz de um sol abrasador, no vai e vem das pequenas marolas.

EvaldOOliveira

Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico 


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