Marcos era um rapaz de classe média, bem apessoado, porte atlético, e acabara de se formar em odontologia pela Universidade Federal de um estado do Nordeste. Com a empolgação própria da idade, o jovem acalentava o sonho de uma pós-graduação e um emprego na Capital da República.
Foi muito bem recebido no aeroporto por uma tia que morava em Brasília, que desde pequeno o considerava como filho. Coração a mil, pela janela do táxi Marcos corria os pelo Plano Piloto à sua direita, que foi se distanciando aos poucos. Deve estar fazendo uma volta, pensou.
E o carro se afastava mais e mais, tomando um caminho diferente do que imaginava o jovem dentista. Esta cidade é Taguatinga, falou sua tia com carinho. Veja esse relógio no centro da praça; é o ponto mais conhecido da cidade. Marcos gostava do que via.
O motorista do táxi continuou seu trajeto sem falar qualquer palavra. Passaram por Taguatinga e ainda rodaram por um bom tempo. Pronto, é aqui, indicou a tia do rapaz. Eu moro nessa casa há muitos anos, e gosto desse lugar..
No dia seguinte, domingo, o jovem dentista saiu para um passeio de reconhecimento. Foi a uma pracinha com ares de mal cuidada, lixo por todo canto, e sentou-se em um banco. Logo apareceu Fernando, um jovem que morava nas redondezas. Começou a falar de seu grupo de amigos e de seu envolvimento com o pessoal lá de baixo, todos pertencentes ao que Marcos imaginou ser uma gang.
Nos dias que se seguiram, Marcos foi apresentado a alguns amigos de Fernando. Foi aí que ele conheceu Elenice, garota linda, mas o irmão da moça pertencia a outro grupo, formado por alguns rapazes da rua de cima.
Em suas saídas de reconhecimento, Marcos se encontrou algumas vezes com Elenice nessa pracinha, e em alguns momentos sentaram-se para conversar. Falavam de seus sonhos, e Marcos comentou que era formado em odontologia, e que estava em busca de uma especialização e de um emprego.
Passados alguns dias, rondando pelo local, Marcos foi surpreendido por um grupo de três rapazes, que o cercaram. O chefe do grupo falou que era irmão de Elenice e que ele, Marcos, tinha que se casar com sua irmã, pois a família não admitia passar pela vergonha de uma filha desonrada. A única solução possível era o casamento, ou ele iria amargar as consequências.
Marcos procurou Fernando e lhe contou a ameaça do irmão de Elenice. Fernando, sem sequer olhar para Marcos, disparou: Você é meu amigo. Fique tranquilo. Se ele matar você, eu mato ele! Prometo!
Em vinte e quatro horas Marcos desapareceu.
Eu o conheci em Brasília na década de 1990, atuando no mesmo centro de saúde em que eu trabalhava. Foi aí que ele me contou esta estória.
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EvaldOOliveiraSócio
Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do
Interessante “conto”!
By: Prof. Carlos Alberto on Abril 9, 2022
at 1:30 pm