Na esteira que nos leva à modernidade, sempre cercada de incertezas e falta de precauções, as questões envolvidas no processamento e utilização da nanotecnologia merecem uma atenção especial. Os interesses da tecnologia e da ética nunca estiveram tão ligadas – ou deveriam estar – quanto no aspecto da nanotecnologia.
O nano, simbolizado por n, tem como significado a excessiva pequenez, e equivale a um bilionésimo da unidade considerada. Por exemplo, um nanograma corresponde a um bilionésimo do grama; um nanômetro (nm), a um bilionésimo do metro (nm = 0,0000000001 m) ou a um milionésimo do milímetro.
A nanotectologia, entendida como o uso de técnicas multidisciplinares orientadas para o estudo dessas partículas diminutas, é tema fundamental em quase todas as pesquisas que envolvem o futuro de áreas como a Informática e a Medicina. A implantação de nanochips, que funcionarão como células, ou para compor, com elas, novos conjuntos orgânicos, assim como a introdução de fluidos contendo nanorrobôs programados para atacar e reconstruir a estrutura molecular de células cancerígenas e vírus será uma realidade. Do mesmo modo, nanocirurgiões poderão ser programados para realizar cirurgias em órgãos delicados, como o olho, com extrema exatidão, sem as cicatrizes das cirurgias convencionais. A aparência física do indivíduo poderá ser alterada, com os nanorrobôs reorganizando os átomos para mudar partes do rosto, como o nariz, a cor dos olhos ou outra característica física qualquer. Ainda na Medicina, estudos apontam para o uso de nanoestruturas carreadores de drogas – as chamadas formulações lipossomais.
Pesquisadores alertam que já estão disponíveis, no mercado, alguns produtos, como protetores solares, contendo partículas nano de óxido de titânio, sem, no entanto, se saber qual o destino de tais partículas – se serão incorporadas às células e que efeitos provocarão. A nanopoluição, gerada pelos materiais utilizados nos processos de produção desses elementos, ou por eles próprios, produzirá, certamente, danos ainda desconhecidos à saúde das pessoas.
A nanotecnologia permitiria – além da fabricação de produtos de alta qualidade a um custo muito reduzido – a criação de novas nanofábricas com o mesmo custo e velocidade. Seria um sistema de fabricação que, por sua vez, de produziria outros sistemas de fabricação – fábricas que produzem outras fábricas – de maneira rápida, barata e limpa. Portanto, em apenas umas semanas poderíamos passar de um reduzido número de nanofábricas para vários bilhões. Constitui, então, um tipo revolucionário de tecnologia, transformador, potente, mas também com muitos riscos – ou vantagens – potenciais, conforme nos alerta o CRN-Center for Responsible Nanotechnology.
Em 1981, pesquisadores da IBM criaram o microscópio de varredura por tunelamento eletrônico, e produziram a imagem da sigla IBM construída com átomos colocados uns atrás dos outros, relata o professor Paulo Roberto Martins, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP.
A inexistência de protocolos específicos para tal fim facilita a disseminação desses produtos, e o temor despertado pela perspectiva da nanotecnologia tem completa razão de ser, tendo em vista as pesquisas para produção de armas e aparelhos de vigilância muito potentes, e em função dos efeitos que a manipulação dessas nanoestruturas e nanomateriais possa provocar ao homem, à sociedade e ao meio ambiente. Há previsão de que, em dez anos, cinquenta por cento da indústria farmacêutica trabalharão com nanopartículas ou nanocomponentes.
Há, ainda, uma importante questão que precisa ser esclarecida quando se manipulam partículas tão pequenas: o risco que tais partículas, percorrendo grandes distâncias no ar, sem controle pelas barreiras naturais, poluírem o ambiente, com possibilidade de se acumular nos alimentos. Para onde irão os microrrobôs e as nanopróteses que serão injetados no organismo humano com o objetivo de aumentar o rendimento de determinados órgãos ou sistemas? Serão incorporados às células? Serão excretados ou eliminados?
Em maio de 2008, as universidades jesuítas, a Unisinos e a PUC-Rio patrocinaram o simpósio Uma Sociedade Pós-Humana, Possibilidades e Limites da Nanotecnologia reuniu pesquisadores das áreas de física, química, biologia, medicina, sociologia, antropologia, filosofia e teologia para debaterem sobre os impactos que terão as nanotecnologias sobre as pessoas e sobre o nosso planeta. Desse encontro nasceu o livro Uma Sociedade Pós-Humana, organizado por Inácio Neutzling e Paulo Fernando Carneiro de Andrade, de leitura obrigatória para todas as pessoas interessadas no futuro da humanidade.
O futuro chegou.
Caro Evaldo, de fato, a nanociência pode ser considerada a reinvenção de toda a ciência na escala nanométrica. Se olharmos bem para a literatura, vamos perceber que estamos reproduzindo o que a humanidade fez, mas agora em nessa escala diminuta. Claro que nessa reprodução sempre aparecem inovações que são possíveis apenas na escala nano.
Praticamente tudo que já fizemos em escala macroscópica vamos poder fazer na escala nano e muito mais, pois vamos poder fazer coisas que não podíamos antes.
Na minha coluna da Ciência Hoje Online apresentei uma série de exemplos, entre os quais destaco esses três:
1 – Nesta coluna eu mostro como Feynman imaginou esse mundo nano – http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/do-laboratorio-para-a-fabrica/feynman-o-profeta-da-nanotecnologia
2 – Aqui veremos como um dispositivo nano pode abrir as portas para a computação quanticia – http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/do-laboratorio-para-a-fabrica/a-pequena-notavel
3 – Aqui temos exemplos de medicação nanométrica, como você mencionou na sua crônica – http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/do-laboratorio-para-a-fabrica/magnetismo-farmacologia-e-medicina.
By: Carlos Alberto dos Santos on Janeiro 17, 2010
at 12:46 pm
Carlos Alberto, que bom que você nos brinda com essas três possibilidades de melhor conhecermos a nanotecnologia. Acho muito bom colocar esse tipo de conhecimento à disposição dos estudantes e outras pessoas interessadas.
By: Evaldo Alves de Oliveira on Janeiro 18, 2010
at 11:03 pm
Meu caro Evaldo: depois de uma pausa na praia de Búzios, onde e quando tirei férias do computador, volto a entrar em contato com o mundo através de seu criativo “blog”. L[i a “crônica de Alice”, o senta-levanta, o vazio, o quase-nada. Depois da leitura resolvi alterar aquele soneto sobre Alzheimer. Outro assunto que marcou, pelo poder de síntese, é o que trata da nanociência. Uma pitada de humor: “nanico” não seria a humana expressão da nanociência? Brincadeiras à parte, não sei se você conhece a obra de dois “cobras” no assunto, Ray Kurzweill e Terry Grosmann. Escreveram Ä Medicina da Imortalidade””, Editora Aleph, São Paulo (www.editora aleph.com.br). Pois bem: há um capítulo especial, “As pontes para o futuro”, em que discorrem, com bastante clareza, sobre a nanociência, ressaltando as infinitas possibilidades que a nanotecnologia oferece à nanomedicina. Espero saber traduzir a essência desses conceitos para enriquecer o capítulo que dedico à ciência nesse novo livro que vou construindo, com perseverança. Nem mesmo o capítulo da medicina considero concluído, pois alguma coisa será acrescentada nesse enfoque da nanomedicina. Enfim, parabéns pelo “blog”, e meus agradecimentos pela inclusão do meu nome entre seus especiais leitores. Abraços em Josélia nos “meninos”. Assis.
By: assis câmara on Fevereiro 10, 2010
at 1:49 am
Assis Câmara, como é bom conviver com sua aura benfazeja. Realmente, o mundo dos doentes de Alzheimer é sombrio, e vai se fechando até ficar sem entrada nem saída. E chega o momento em que apenas o silêncio – da boca e da mente – faz companhia à pessoa, em um mundo que imagino sem vida e sem graça. Com relação à nanotecnologia, veja as indicações do Prof. Carlos Alberto, Físico da UFRS no comentário anterior ao seu. Um abraço e obrigado.
By: Evaldo Alves de Oliveira on Fevereiro 10, 2010
at 9:54 pm
[…] O seu dia mais activo do ano foi 6 de Abril com 39 visitas. O artigo mais popular desse dia foi NANOMEDICINA, o futuro chegou?. […]
By: Os números de 2010 « Blog do Evaldo on Janeiro 2, 2011
at 11:34 am